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Incoerência

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Depois da recusa da Argentina e Colômbia, o Brasil confirmou a realização da Copa América, com a ressalva de que seguirá os mesmos protocolos adotados em outras competições. Quando pensamos que, no final de 2020, foi notícia que no Brasileirão, oito equipes tiveram surtos com muitos jogadores infectados, fico me questionando: que protocolos? Nessa situação de jogos anteriores, nos quais poucos times da Série A não apresentaram casos, fica evidente o risco aumentado de transmissão nesses eventos. Inclusive, recentemente, o Grêmio teve afastados vários jogadores, quando apresentou mais de 20 casos confirmados entre elenco e comissão técnica.

No pico de uma pandemia, quando milhares de famílias sofrem perdas inestimáveis, estarmos discutindo sobre a realização de um campeonato de futebol, sinceramente, é o auge da insanidade.

Eu até diria que a decisão é coerente com um governo que não está preocupado se parte da população vai procurar bares para assistir jogos no telão tomando sua cervejinha e passando o vírus de copo em copo. Nem mesmo está perturbado com a outra parcela que sofre com a perda de alguém querido, que se foi com a pandemia por falta de vacina. Francamente, não temos voz para vibrar, pois esse é o tal gol contra.

Pensar que há mais de cem anos, o Brasil foi mais coerente quando desistiu de sediar o evento da Copa América, por ocasião da gripe espanhola, é perceber que retrocedemos. No ano de 1918 as autoridades decidiram adiar os jogos para o ano seguinte, visando um cuidado maior com a pandemia. Recordando que, naquele período, inclusive o presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves, morreu de gripe espanhola.

E pior, ainda há quem duvide ainda da eficácia da vacina! Apesar dos inúmeros exemplos históricos do bem que já nos trouxeram (erradicação da poliomielite e varíola e controle de muitas doenças imunopreveníveis), projeto coordenado pelo Instituto Butantã, no município de Serrana/SP, traz evidências concretas da validade da imunização. Com 95% dos habitantes acima de 18 anos vacinados com a Coronavac, a pesquisa registrou quedas em 95% de óbitos, 86% de internações e 80% os casos sintomáticos da Covid-19. Se esses dados não lhe convencem do êxito da vacinação, sinto muito, mas talvez sua cegueira seja opcional. E, infelizmente, você deve ser do time que estará torcendo pela copa América no Brasil, enquanto milhares de pessoas continuam se contaminando.

Demonstrações claras do não uso de máscara, colocar dúvida no poder da vacina e induzir a população a aglomerações e utilizar medicamentos de comprovada ineficácia, são lastimáveis episódios estimulados, inclusive, por parte do governo. Considerar que o Brasil já foi reconhecido mundialmente por possuir um dos melhores programas de imunizações, é realmente triste.

Favorecer a realização de jogos nessa fase de muita gravidade, quando é anunciada uma provável terceira onda, é o retrato do Brasil atual. Faz lembrar a copa de 1970, quando se entoava "para frente Brasil, salve a seleção" quando na verdade o país também não ia bem. São nuvens de fumaça para deixarmos a pandemia em segundo plano? Ainda bem que estamos em junho, pois creio que se estivéssemos fevereiro, também seria incentivada a ampla liberação do carnaval.

Com uma vacinação a passos de tartaruga, com quase 500 mil mortos e o contínuo aumento de casos, o mínimo que podemos dizer é o tamanho da incoerência da Copa América no Brasil nesse momento. 

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17 de maio

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